Profissões: expectativa x realidade
- Júnior Ribeiro
- 29 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
Mãe, eu vou ser bem-sucedido no futuro. Eu juro!
Como se já não fosse pesada essa cruz que carregamos nas costas chamada graduação, ainda temos que lidar, dia-a-dia, com as expectativas futuras sobre como será nossa carreira profissional.

É sempre uma carga grande de expectativas, às vezes imposta pelos nossos pais, às vezes impostas pela bendita sociedade, às vezes criadas por nós mesmos. Quer ver?
Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando você pensa em um médico? Certamente um profissional bem-sucedido, trabalhando freneticamente em um hospital e com algumas olheiras por passar a noite acordado fazendo cirurgias. E quanto à jornalistas? “Ah! Todos querem ser repórter de televisão”. São muito bons com textos e altamente desinibidos.
Agora, só mais uma, o que lhe vem à cabeça quando você pensa em um psicólogo? Você deve pensar logo, claro, em uma pessoa altamente equilibrada, observando seu paciente deitado num divã vermelho (ou amarelo de cor viva) em seu escritório rico e fino.
Contudo, entre a expectativa e a realidade, meus amigos, podem existir grandes diferenças. Você mesmo pode elaborar uma lista enorme sobre as expectativas criadas acerca de sua (futura) profissão, não é mesmo?
A Mayara, por exemplo, já é graduada em Jornalismo e afirma que nunca teve muitas expectativas acerca da profissão, mas que sofre com as expectativas dos outros.
"Ainda hoje me perguntam, quando falo que sou jornalista, quando é que eu vou aparecer na televisão", diz Mayara.
Hoje ela trabalha numa assessoria de comunicação. Certamente essa não é uma profissão sonhada por adolescentes no ensino médio, mas é onde, hoje, a Mayara se realiza profissionalmente.
"Eu não tinha na cabeça que ia fazer esse curso. Eu me encontrei por acaso. No início eu queria ser repórter de jornal impresso, pela minha paixão pela escrita. Mas, hoje em dia, eu acabei me encontrando na área de comunicação corporativa e sinto que aqui é o meu lugar", diz Mayara Bastos.
Nem existe, especificamente, um curso superior que lhe garanta um diploma de escritor, mas o André Gonçalves também não se livrou dessa.
“Há quem acredite que escritores são seres que recebem uma divindade, uma inspiração divina, e que dessas inspirações saem os textos, poemas, livros. Muitas pessoas "glamourizam" em excesso o trabalho de quem escreve, pensando ser uma atividade charmosa, leve, com pouco trabalho e muito sucesso, palestras e romances”, afirma André.
Ninguém se livra dos estereótipos mesmo! André não acredita muito em talento e defende que sempre será preciso mais esforço do que qualquer outra coisa.
“Na verdade, escrever tende a ser um trabalho bastante árduo. Li em algum lugar e não sei onde que, para escrever uma página de texto, um romancista deve ter lido pelo menos 500 páginas de outros romances. Claro, esse pode ser um número fantasioso, mas de alguma forma tem base real”, diz André.

Então nós fomos conversar com a psicóloga Ângela Carvalho pra ela explicar pra gente se esses estereótipos podem nos atrapalhar de alguma forma no nosso percurso rumo à carreira profissional. Mas, primeiramente, ela aproveitou o microfone foi pra denunciar que as pessoas também criam expectativas demais em cima do psicólogo. Olha o que ela disse:
“As pessoas pensam que o psicólogo tem que ser uma pessoa muito equilibrada, que praticamente não tenha problemas emocionais e que tenha a saúde mental maravilhosa! Uma pessoa que é capaz de conciliar, de manter a calma. Eu tenho minhas loucuras, ainda bem! Existe aquele estereótipo do profissional de consultório, recebendo pacientes que pagam 500 reais numa consulta", diz Ângela.

Ela também afirma que, por vezes, o próprio akdêmico de psicologia chega à universidade achando que seu campo de atuação é apenas o atendimento clínico, no seu consultório, “sentado na sua cadeira maravilhosa”, como ela mesmo disse, e cobrando R$500 por consulta. (Assim até eu mudaria meu curso pra psicologia...)
Ângela explica que a mudança da mentalidade dos akdêmicos, que muitas vezes chegam contaminados por esses estereótipos, devem mudar na universidade para que ele(a) se encontre em alguma área de atuação de acordo com seu respectivo curso.
“O aluno só tende a se frustrar se construir sua imagem futura em cima dessa ideia imaginária de um profissional todo-poderoso. Eu acredito que o passo inicial é a reformulação da matriz curricular dos cursos. Porque uma coisa é a teoria em sala de aula, outra coisa é o que está acontecendo na prática”, diz Ângela.
Ela ainda completa:
“É na graduação que o aluno vai se encontrar dentro do curso e, enquanto profissional, ele vai levar essa concepção para a atuação dele”, finaliza a psicóloga.
Por isso, nada de ligar para o que os outros estão pensando. Pra finalizar de forma inspiradora, deixo um verso da música contemporânea “Vem dançar o mestiço”, que diz: “siga em frente, olhe para o lado”.
Mas olhe mesmo! Você vai perceber (se é que já não notou) que existem muitas áreas que você pode se identificar na sua profissão. Coloque os estereótipos de lado e seja um profissional f***, fazendo o que você gosta de fazer!!
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